domingo, 13 de outubro de 2013

Take your protein pills and put your helmet on


Para entrar no clima :

Check ignition, and may God's love be with you


Antes de qualquer coisa,fiquem tranquilos,aqui não tem spoilers,ok? Os doidos do spoiler já podem respirar e ler normalmente.De nada ,gente. Bom,quem me conhece já sabe,eu jamais usaria uma música de Bowie em vão,jamais a colocaria em um contexto que não estivesse no mesmo nível de maravilhosidade. Acho que posso dizer que o filme de Cuarón me tocou tanto quanto Space Oddity,creio que Gravidade,também, vai me abalar sempre,não importa quantas vezes eu o reveja.Que filme minha gente,que filme!Ainda estou me recuperando da tensão,então desculpem qualquer lapso acho que estou com alguma síndrome pós-filme.

Fui ver o filme cheia de expectativas,ouvi ótimas indicações de amigos e não me decepcionei,amei o filme,mas o achei diferente do que muita gente tinha descrito,encontrei um filme muito mais denso e metafórico do que esperava.No entanto,apesar do que muita gente pode pensar,Gravidade não é um filme difícil ou hermético,mas por apresentar um teor muito humano e subjetivo, vai ser sentido e interpretado de maneira diversa por cada espectador.Portanto,aviso, apesar do cenário espacial ele não é uma aventura estelar,nele,o espaço serve para nos introjetar,nos encapsular e iniciar uma viagem ao interior da alma humana.


For here am I sitting in a tin can
Far above the world

Alfonso Cuarón e seu filho Jonás escreveram um roteiro que beira a perfeição.Cada acontecimento,cada diálogo tem um sentido na trama,nada é desnecessário ,tudo que vemos se encaixa para formar aquela teia de medo e tensão que nos prende desde o começo do filme.A escolha do espaço sideral como pano de fundo para esse drama não poderia ser mais inteligente,a simbologia que ele tomou nas cenas é universal,o silêncio ,a escuridão,a falta de qualquer ponto de segurança nos remete à situação vivida por Ryan Stone e por todo ser humano em algum momento da vida.Stone, a personagem de Sandra Bullock ,expõe na tela o nosso espaço interior, muito mais assustador e poderoso do que o espaço estelar.

Though I'm past 100,000 miles
I'm feeling very still

Ao contrário que a imprensa anda divulgando,o filme é todo de Sandra.O personagem de George é um acessório para o seu desenvolvimento e serve para aliviar um pouco o clima pesado do filme.Sandra segura o filme todo sozinha,mostra, pra quem ainda tinha alguma dúvida, que é uma das grandes da atualidade e alegra os seus fãs de longa data,que nem eu,que já amava a atriz desde os tempos de Velocidade Máxima.

Ela tem uma qualidade rara ,que foi muito útil ao filme,Sandra consegue externar grandes emoções,de uma maneira comedida,suas personagens,geralmente,são mulheres que fogem dos estereótipos femininos,e aqui essa fórmula funcionou muito bem.Stone tem trejeitos calmos,se mostra uma profissional competente e forte,ao longo do filme vemos a desconstrução dessa imagem,acompanhamos Stone nos seus piores momentos,sofremos com a sua dor,a sua solidão é desoladora e o seu drama é comovente.

I'm floating in the most peculiar way
And the stars look very different today

Não quero detalhar sobre o que acontece com Stone,as surpresas das cenas são fundamentais para quem assiste,cada uma delas exibe uma nova faceta da engenheira,construindo a sua superação ,o seu renascimento.Em algumas partes me lembrei de Melancholia,o mesmo uso da figura feminina para ilustrar o paradoxo da força e da fragilidade,a fotografia lindíssima,o azul predominante e a trilha sonora tensa.A lembrança de outro filme ,também,foi forte,o luto parental abordado com delicadeza me recordou o excelente O Quarto do Filho,de Nanni Moretti.

Here am I floating round my tin can
Far above the moon
Planet Earth is blue, and there's nothing I can do....

Além disso, as metáforas embutidas no roteiro conseguem atingir um nível concreto,o que deixa o filme com uma poesia metafísica digna dos grandes clássicos existencialistas,o que na minha opinião é um trunfo difícil de ser alcançado,que Cuarón consegue com muito talento e sensibilidade.O seu texto tem síntese e expressão ,essenciais para tratar de  temas tão abstratos quanto os abordados em Gravidade.Li que ele passou anos escrevendo e produzindo o filme,um trabalho bem arquitetado, que segurou ,somente em uma hora e meia,o que alguns filmes intermináveis não conseguem,Alfonso conseguiu mostrar o que aprendeu com mestres como Bergman,Trier e Kubrick,mostrando estilo e muito tato.

Espero que seu próximo trabalho também venha com a mesma qualidade,atraindo o público e os elogios com a mesma força de Gravidade.Fiquei com vontade de rever o sucesso anterior dele,o Filhos da Esperança,acho que Gravidade me deixou um gosto de quero mais,o tempo curto do filme e adrenalina devem ter contribuído pra isso,além do talento do mexicano é claro.Deixo aqui meu apelo,se você querem ir ao cinema,vão ver Gravidade,ele é um desses filmes que pede uma telona,podem ir ,é satisfação garantida ou seu dinheiro de volta(não me responsabilizo por esta parte...).



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